Krautrock

Um estilo tipicamente alemão, uma forma de música ligada à sociedade e, por que não, precursores do avant-garde na música pop. Essas são as características que permeiam o Krautrock, que rompia com as barreiras da música tradicional.

Na década de 60 aconteciam na Alemanha diversos movimento de revolta contra a situação de um Estado devastado pela Segunda Guerra Mundial e que contrastava com a cena musical. As pessoas escutavam ou música erudita ou um ritmo conhecido como Schlager. Ele era calcado em músicas extremamente pop com temáticas que falavam de amor, relacionamentos e toda uma série de assuntos superficiais e fúteis. Teve como grandes representantes Roy Black, Lale Andersen, Freddy Quinn, Peter Alexander, Heintje, Peggy March, Udo Jürgens, Reinhard Mey, Nana Mouskouri, Rex Gildo, Heino e Katja Ebstein. Era muito popular e não existia somente na Alemanha, mas em países como Finlândia, Suécia, Aústria, Iugoslávia e Bélgica.

Abaixo um clipe do Heino, grande nome do Schlager.

Essa superficialidade fazia com que jovens não se contentassem somente com esse panorama. Então deveriam criar algo novo, algo que pudesse refletir a realidade que eles viviam e pudesse sair desse superficialismo todo. Mas ao mesmo tempo não queriam soar como os ingleses e os norte-americanos, queriam uma música deles. Não iriam fazer que nem o Blues e o Rock, mas sim procurar um caminho próprio. Então temos aí o embrião do krautrock.
O uso dos sintetizadores, aliado a influências de diversos estilos, sobretudo da música clássica experimental e do rock progressivo fizeram um grande sucesso entre a juventude intelectual alemã, cansada de schlager e de rock inglês. Instigados pela contracultura, esses músicos queriam experimentar de todas as formas possíveis, usando barulhos, texturas, drones, música erudita, música popular e amarrar tudo de uma só vez.

Em 1968 teve o Internationale Essener Songtage, produzido pelo jornalista Rolf-Ulrich Kaiser, abriu espaço para as bandas de krautrock, sendo posteriormente conhecido como o “Woodstock Alemão”. Grupos como Guru-Guru, Tangerine Dream, Xhol Caravan e Amon Düül puderam tocar para 40 mil pessoas, junto de artistas como Frank Zappa. Foi uma forma da música produzida na Alemanha ficar conhecida no resto do continente.

O nome krautrock veio com as resenhas das revistas inglesas. Kraut era a forma depreciativa com que os ingleses se referiam aos alemães, referência à palavra sauerkraut, que significa “chucrute”. Há também uma versão que alega a origem do nome ao John Peel, famoso radialista, crítico musical e jornalista inglês. Ele foi o responsável por trazer uma música mais eclética às rádios inglesas, contribuindo muito com a evolução da cena pop. Esse radialista teria se deparado com o disco Psychedelic Underground (1969), do Amon Düül, que continha a música "Mama Düül und Ihre Sauerkrautband spielt auf". Seja qual for a origem, era um meio depreciativo de se referir aquele som atmosférico, cheio de ruídos ambientes, sons retirados de objetos etc.

Um grande nome que começou no estilo foi o do Kraftwerk. Eram estudantes de música clássica que começavam a mudar a maneira de se fazer música, com predileção de sons sintetizados. Eles, juntamente com o Tangerine Dream, levaram o legado do “rock alemão” ao resto do continente. Na década de 70 essas bandas e outras do estilo ganharam o mundo, onde os discos compartilhavam as mesmas prateleiras dos grupos de rock progressivo. Era talvez o estilo que chegasse mais próximo do que se produzia na Alemanha. Ainda sim era muito distante do rock, pois nenhum músico dessa leva queria tocar rock.

Musicalmente o kraut seria algo que une rock progressivo com muito experimentalismo, onde o instrumento principal não é a guitarra, mas sim o sintetizador. Leva muito da música eletrônica, do jazz e de uma série de elementos que podem até incluir música indiana. Seu direcionamento é muito mais psicodélico, com sonoridades que abusam de um ar mais ambiente e espacial.
Apesar de ter acabado, ainda sim temos reflexos na música dentro do industrial, do post-punk (esses extremamente influenciados pelo flerte entre o rock e o eletrônico), o post-rock, o new age e alguns outros estilos experimentais. O Radiohead fez um cover de um dos grandes nomes do estilo, o Can, da música “Thief”. É ainda uma forma de fazer música que tem muito a ensinar as pessoas, mostrando que sempre é possível redescobrir e romper limites.

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