Existe uma coisa muito difícil de se definir, que são os rótulos de música. Quando chegamos na parte eletrônica, a classificação se torna algo complexo, uma vez que nem sempre a forma como a música é concebida (ou seja, a parte do ritmo e da afinação, como acontece com o heavy metal) determina o que ela, de fato, é. Tanto que mesmo o rótulo “industrial” abrange muito mais um grande conjunto de bandas de um determinado período que, necessariamente, um estilo musical definido, com regras e padrões imutáveis. Talvez seja por isso que hoje se pode dizer que, exceto pelo post-rock, tudo que veio do rock e continua, atualmente, é engessado, sem grandes inovações.
Quando falamos de música eletrônica, diversos gêneros surgem, desde os mais conhecidos, como o Techno, o Trance, o Drum’n’Bass, o Dub e até mesmo a própria música eletrônica (que em inglês chama-se simplesmente eletronica) até os mais experimentais, como a música concreta, o dark ambient, o eletrônico abstrato, o noise, o ebm etc. Talvez, dentre os estilos populares e não populares, o que mais tem se mostrado evolutivo e técnico é, sem dúvidas, a Intelligent Dance Music, ou simplesmente IDM.
Esse estilo vai surgir no final dos anos 80 e começo dos anos 90, onde passamos a ter uma cena eletrônica dentro das raves britânicas que, por conta de diversas gravadoras, passou a abarcar, nesse período, diversos grupos experimentais. Eram artistas cuja sonoridade remetia ao Techno e ao Dance, mas que fugiam de uma sonoridade repetitiva e flertavam com outras vertentes eletrônicas. A gravadora Warp Records lançou em 1992 o disco Artificial Intelligence, que traria artistas importantes do estilo, como Aphex Twin (sob o nome de The Dice Man), Autechre e o Speed J, entre outros. O que diferenciava esse disco (o primeiro de uma série) dos outros lançamentos de Techno e Dance eram as batidas, o alto grau de experimentalismo e uma certa atitude descompromissada com fazer “música para rave”.
O rótulo IDM veio a surgir dentro da lista da Usenet, quando cunharam, primeiramente, no ano de 1991, o termo Intelligent Techno para o disco The Snow, do Coil. Era um disco com fortes traços de acid house, mesclados com o industrial. Dois anos depois surge a mesma frase se referindo ao disco do Black Dog chamado Bytes. Nesse mesmo ano surge uma lista que se chamava the Intelligent Dance Music list ou IDM List.
O objetivo dessa lista era agrupar e discutir sobre a música eletrônica experimental que surgia nessa época, com grupos fazendo diversas coisas que se assemelhavam em alguns poucos pontos. Nela estão incluídos artistas como Future Sound of London, Bjork, Orbital, Plastikman, Autechre etc. O nome “intelligent” veio por conta do Artificial Intelligence e o criador da lista, Alan Perry, disse ser o mais próximo que ele podia associar os grupos e artistas em termos de sonoridade.
Musicalmente falando o IDM é algo complexo demais. A despeito do nome “dance”, nem sempre as músicas são feitas para dançar. Muitas, inclusive, não possuem batidas características, tendo somente as texturas sonoras acompanhadas de uma percussão marcada por contratempos. Talvez o mais simples para definir o IDM seria uma versão experimental do Techno, onde se mesclam industrial (que, indiretamente, contribui na sonoridade), hip hop, música ambiente e até mesmo jazz. Pode-se notar que o som de todos os artistas que incorporam esse gênero tende a um grau de complexidade muito grande, abusando de técnicas eruditas e até mesmo indo aos limites possíveis do som. Não existe também a predominância de um instrumento sobre os outros, todos os instrumentos sintetizados são bem marcados em todas as músicas, mesmo aquelas que são feitas com texturas eletrônicas complexas.
Os artistas que pertencem a essa classificação não a aceitam, uma vez que é uma tentativa de “nomear e esquematizar” algo que, na prática, não é possível. Mesmo os discos do Aphex Twin tem uma diferença muito gritante entre um e outro, não deixando muita margem para dar as “características” do gênero.
Hoje temos artistas experimentais que, vez por outra, flertam com a música dance inteligente, como o Klyxn, The Last Gambit, Lucidstatic, Ochre, Index All, que vão acrescentar o industrial, o glitch (derivado do próprio IDM), o downtempo, o electro, o trip-hop e outras coisas, tornando o gênero ainda mais rico.
Talvez hoje não se possa falar que exista ou que existiu o IDM: mas é certo dizer que ele ainda se mantém na obscuridade pela dificuldade que ele mesmo gera para as pessoas entenderem que é possível fazer uma música-arte dentro da cena eletrônica.
Abaixo alguns vídeos para conhecer o IDM.
2 comentários:
Nem imaginava que existia essa classificação... Gostei muito da matéria. As músicas são legais e o primeiro vídeo é muito bom!!!
Ae Fallen, muito obrigado pela matéria
Não conhecia o tipo de som, mas agora expandi meus horisontes musicais
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